quarta-feira, 23 de março de 2011

Amizade

“A amizade perfeita existe entre os homens de bem e os que são semelhantes a respeito da excelência. Estes se querem bem uns aos outros, de um mesmo modo. E por serem homens de bem são amigos dos outros pelo que os outros são. Estes são assim amigos, de uma forma suprema. Na verdade querem para os seus amigos o bem que querem para si próprios. E são desta maneira por gostarem dos amigos como eles são na sua essência, e não por motivos acidentais. A amizade entre eles permanece durante o tempo em que forem homens de bem; e, na verdade, a excelência é duradoura. Cada um é um bem absoluto para o seu amigo. Os homens de bem são absolutamente bons e úteis aos outros; também são agradáveis entre si, porque quem é absolutamente bom é também absolutamente agradável”

Aristóteles (384 a.C. – 322 a.C.) – Em “Ética a Nicômaco”



Amizade no Livro Sagrado

As amizades são uma parte importante da nossa vida, de nossa formação e crescimento espiritual e é uma parte fundamental em nossa busca pela felicidade. É da natureza humana precisarmos compartilhar a nossa vida com outras pessoas.

Na Bíblia, encontramos muitos ensinamentos sobre o valor dos bons amigos ela também adverte-nos sobre os perigos dos companheiros errados.

As Escrituras nos orientam sobre a escolha certa e o tratamento digno dos nossos amigos. À Luz destes ensinamentos vemos que amigos têm muita influência em nossas vidas: "O justo serve de guia para o seu companheiro, mas o caminho dos perversos os faz errar" (Provérbios 12:26). Por este motivo, a escolha de companheiros é um assunto de grande importância: "Quem anda com os sábios será sábio, mas o companheiro dos insensatos se tornará mau" (Provérbios 13:20) que é traduzida na cultura popular e transmitida como ensinamento aos jovens no famoso “diga-me com quem andas e te direi quem és”. No final de contas, nossas escolhas não envolvem apenas pessoas, mas decidem a nossa direção na vida e o rumo de nossas ações incentivadas. Devemos escolher bons amigos que nos ajudarão, em última análise, também em termos espirituais.

Paulo mostrou aos coríntios que, mesmo entre pessoas religiosas, é necessário evitar influências negativas: "Não vos enganeis: as más conversações corrompem os bons costumes" (1 Coríntios 15:33).

A amizade verdadeira traz benefícios mútuos: "Como o ferro com o ferro se afia, assim, o homem, ao seu amigo" (Provérbios 27:17).

A fidelidade e a lealdade são pressupostos para a amizade verdadeira. A Bíblia diz em Provérbios 17:17 “O amigo ama em todo o tempo; e para a angústia nasce o irmão”, esta fidelidade deve ser expressa até mesmo na hora da crítica que, vinda de um amigo sincero, não será jamais algoz, e será mais edificante que as falsas palavras daqueles que nos bajulam. Provérbios 27:6 nos diz “Fiéis são as feridas d'um amigo; mas os beijos d'um inimigo são enganosos.”

No livro dos Provérbios, escrito aproximadamente no século X a.C. e que traz máximas de sabedoria amealhada na época, apresenta as características de uma amizade saudável, as quais todo cristão deve cultivar em suas amizades. São tais como: Reconhecimento de Limites (Pv 25.17; 26. 18-19), honestidade (Pv 27. 5-6), aconselhamento mútuo (Pv 27.9; Pv. 12.26), lealdade (Pv 27.10; Pv 17.17), perdão (Pv 17.9) e, como já mencionado, utilidade para o aperfeiçoamento (Pv 27.17).

De outra face o livro dos Provérbios também ensina as características de um mal amigo, de quem se deve fugir, são: Criador de conflitos (Pv 6 16-19), difamador (Pv 16.28), violento (Pv 22. 24-25), descomedido (Pv 23.20), rebelde (Pv 24.21), falsidade (Pv 27. 5-6), bajulador (Pv. 28.23).

AMIZADE NO PENSAMENTEO ARISTOTÉLICO

Aristóteteles investiga sobre a natureza da amizade, perscrutando o campo da ética, ele discute necessariamente as virtudes, e a amizade é, como ele mesmo disse, uma virtude, e é, além disso, extremamente necessária à vida. “com efeito, ninguém escolheria viver sem amigos, ainda que dispusesse de todos os outros bens...; de fato, de que serviria tanta prosperidade sem a oportunidade de fazer o bem, se este se manifesta, sobretudo e em sua mais louvável forma em relação aos amigos?”

Sendo uma das mais importantes virtudes, a amizade é um elemento essencial à felicidade e à plenitude da vida humana, esta verdade, desde a antiguidade reconhecida, certamente serviu às investigações do Mestre que ainda nos diz: “Pois sem amigos ninguém escolheria viver, apesar de todos os seus bens”.

A amizade é guia, é amparo, é nobre. A amizade ajuda o jovem a evitar os erros, ajuda os mais velhos amparando-os em suas necessidades e suprindo as atividades que declinam com o peso dos anos; e aos que estão no vigor da idade ela estimula a prática de nobres ações, pois com amigos, “dois que andam juntos”(Homero, Odisséia), as pessoas são mais capazes de agir e pensar.

Segundo Aristóteles, a amizade é mais importante que a justiça, afinal: “quando os homens são amigos não necessitam da justiça, ao passo que mesmo os homens justos necessitam também da amizade; e considera-se que a mais autêntica forma de justiça é uma espécie de amizade”, portanto, o amigo é justo. Isto está implícito por natureza na própria interrelação.

Como dito, o homem precisa da amizade, para alcançar a felicidade (o sumo bem), e alcançada, necessita da ajuda dos amigos virtuosos. “Ora, alguém que é suficientemente feliz deve ter o que deseja, sob pena de, caso contrário, ser deficiente a esse respeito. Portanto, para ser feliz o homem necessita de amigos virtuosos”.

Segundo ele “Tais amizades são, de fato, raras, porque são poucos os homens desta estirpe. Além do mais, é preciso tempo e cumplicidade, pois, tal como diz o provérbio, não é possível que duas pessoas se conheçam uma a outra sem antes terem comido juntas a mesma quantidade de sal. Nem se pode reconhecer alguém como amigo antes de cada um se ter mostrado ao outro digno de amizade e merecedor de confiança. Pessoas que depressa produzem provas (exteriores) de amizade entre si querem ser amigos, mas não podem sê-lo logo. É preciso primeiro que se tornem dignos de amizade e se possa reconhecer neles essa mesma dignidade. O desejo de amizade nasce depressa, mas a amizade não”.

Aristóteles afirma que a amizade não é apenas necessária, “mas também nobre”, como já mencionamos, “pois louvamos os homens que amam seus amigos e considera-se que uma das coisas mais nobres é ter muitos amigos. Ademais, pensamos que a bondade e a amizade encontram-se na mesma pessoa”.

A amizade definha com a ação da distância e como é uma virtude e virtude é prática, também esmorece com sua inatividade, é o que nos leciona o mestre ao dizer: “Com efeito, as pessoas que vivem juntas deleitam-se a uma com a outra e beneficiam-se mutuamente, mas quando estão adormecidas ou se acham separadas no espaço não exercem as atividades próprias da amizade, não obstante sejam capazes de tanto. A distância hão faz desaparecer a amizade em absoluto, mas somente a sua atividade. No entanto, se a ausência se mantém por muito tempo, parece de fato fazer com que as pessoas esqueçam sua amizade; e vem daí o provérbio “a ausência desfaz as amizades”.



AMIZADE NO PENSAMENTO DE VOLTAIRE

Segundo Voltaire, em seu Dicionário Filosófico (1764), a Amizade “é um contrato tácito entre duas pessoas sensíveis e virtuosas. Sensíveis porque um monge, um solitário, pode não ser mau e, contudo, viver sem conhecer a amizade. Virtuosas porque os maus não reúnem mais do que cúmplices. Os voluptuosos careiam companheiros de devassidão. Os interesseiros reúnem sócios. Os políticos congregam partidários. O comum dos homens ociosos mantém relações. Os príncipes têm cortesãos. Só os virtuosos possuem amigos”.

Também para Voltaire o homem não pode dispor de um amigo, ainda que tenha toda a riqueza do mundo “Todas as riquezas do mundo não valem um bom amigo”.

A amizade não é eterna pode ser, obviamente, rompida por ações diversas que não se coadunam com a amizade propriamente dita, e assim Voltaire sentencia: “amizade é um casamento entre almas, e esse casamento é sujeito ao divorcio”.



AMIZADE PARA OUTROS PENSADORES

“De todos os bens que a sabedoria nos faculta como meio de obter a nossa felicidade, o da amizade é de longe o maior. “ (Epicuro)

“Amigo é aquele diante de quem podemos pensar em voz alta”.(Ellen G. White)

“Só existe uma coisa melhor do que fazer novos amigos: conservar os velhos” (Elmer G. Letterman)

“Cada novo amigo que ganhamos no decorrer da vida aperfeiçoa-nos e enriquece-nos, não tanto pelo que nos dá, mas pelo que nos revela de nós mesmos.” (Miguel Unamuno)

“Quem perde seus bens perde muito; quem perde um amigo perde mais” (Miguel de Cervantes)

“Não é amigo aquele que alardeia a amizade: é traficante; a amizade sente-se, não se diz.” (Machado de Assis)

“A felicidade de um amigo deleita-nos. Enriquece-nos. Não nos tira nada. Caso a amizade sofra com isso, é porque não existe.” (Jean Cocteau)

“Os amigos têm tudo em comum, e a amizade é a igualdade” (Pitágoras)

“Pode ser que um dia nos afastemos...Mas, se formos amigos de verdade, A amizade nos reaproximará.” (Albert Einstein)

“Para conhecermos os amigos é necessário passar pelo sucesso e pela desgraça. No sucesso, verificamos a quantidade e, na desgraça, a qualidade.” (Confúcio)

“Para conseguir a amizade de uma pessoa digna é preciso desenvolvermos em nós mesmos as qualidades que naquela admiramos.” (Sócrates)

“A amizade duplica as alegrias e divide as tristezas” (Francis Bacon)

“A amizade é uma predisposição recíproca que torna dois seres igualmente ciosos da felicidade um do outro.” (Platão)

“A amizade avança dançando à volta do mundo, proclamando a todos nós a necessidade de louvarmos a vida feliz.” (Epicuro)

“O mundo inteiro oferece uma casa comum aos homens que amam a amizade: a Terra.” (Epicuro)



A amizade é um princípio básico na vida do homem de bons princípios porque ela não aceita a mentira, a trapaça, a omissão, o falta da lealdade e a traição.

A amizade que é fruto deste amor fraternal que une os indivíduos como verdadeiros irmãos, é mola propulsora para as ações que buscam o bem comum. Benjamim Franklin disse que “um irmão pode não ser um amigo, mas um amigo será sempre um irmão” e neste sentido, como vimos, teremos a correção de nossos erros, o amparo em nossas dificuldades e a união de forças na prática das boas ações.

Goitf Malheiros

Fontes:
1. (1)A arte de viver da Amizade - IVO JOSÉ TRICHES – Portal Revista de Filosofia.


2. O Poder da Amizade - Ubyrajara de Souza Filho


3. Ética a Nicômaco – Aristóteles – Ed. Martin Claret – Coleção A Obra Prima de Cada Autor


4. Biblia Sagrada