segunda-feira, 5 de julho de 2010

Sonhos: um caminho de autoconhecimento e espiritualidade

Por Vera Saldanha

Um dos aspectos mais significativos em nossas vidas são os diferentes estados de consciência que vivenciamos ao longo de um dia; na maioria das vezes, sem nos darmos conta da relação entre eles.

Por exemplo, ao acordarmos, estamos saindo do estado de sono, outras vezes do estado de sonho, logo após passamos por um estado de devaneio (semi-acordado), o qual na neurologia é denominado de hipnopompico, e entramos na consciência de vigília. Estes três estados, sono profundo, sonho e consciência de vigília; são vivenciados como se fossem realidades separadas.

A abordagem transpessoal em psicologia tem primado por estudos e exercícios profundos que favorecem o entendimento desses diferentes níveis de consciência. Acrescenta ainda que além destes níveis, existe a plena consciência, um estado amplo que apresenta uma percepção da realidade interna e externa mais lúcida, de maior sabedoria, amor e verdade, e o estado de despertar, situado entre a consciência de vigília e a plena consciência.

Existem muitos outros níveis ou estados de consciência, porém os acima citados são os mais significativos para o nosso autoconhecimento, na vida cotidiana. De acordo com nosso estado de consciência, é que se dá a percepção da realidade.

Os sonhos apresentam uma linguagem simbólica, mas muito significativa para a evolução humana. Jung, médico e grande estudioso de sonhos, no século passado, afirmava que somos no que a vida tem de mais privado, mais íntimo, não somente as vítimas, mas também os obreiros.

Ele tinha para seus pacientes uma frase “preste atenção a seus sonhos” explicando que ao dizer isto significava sugerir ao indivíduo que se voltasse para o que havia de mais subjetivo em si, para a fonte de sua existência e de sua vida. Acrescentava ainda que o fato dos sonhos serem uma expressão de sua natureza subjetiva poderia revelar-lhe o erro que o levou ao beco sem saída.

Os sonhos, segundo Jung, eram produtos da “alma inconsciente”, espontâneos, naturais, e deveríamos criar uma intimidade com nossos sonhos, possibilitando que aspectos do inconsciente mais profundo se revelem, por meio deste instrumento poderoso e cotidiano.

Maslow, contemporâneo de Jung, responsável pela abordagem humanista e transpessoal em psicologia em sua tese geral sustentava que muitas das dificuldades de comunicação entre as pessoas são o subproduto das barreiras de comunicação dentro da pessoa. Tecia profundas reflexões sobre esta temática na clínica, na educação na sociedade, e na vida diária.

Afirmava que na medida em que estamos integrados, completos, unificados, funcionamos de forma espontânea e plenamente; nessa medida nossas expressões e comunicações serão completas, únicas, vivas e criativas em lugar de inibidas, convencionais e artificiais; honestas e não falsas (Maslow: 1994).

No plano psicológico, a comunicação se dá de forma mais intensa entre a emoção, cognição, sensação e intuição. Quando porém aprofundamos a comunicação interna, mobilizamos diferentes estados de consciência, favorecendo a emergência da dimensão espiritual, superior de nosso Ser.

Sendo assim, embora possamos às vezes sentir os diferentes níveis de consciência como separados, todos eles estão profundamente interligados. Por exemplo, o nosso dia pela manhã, começou no dia anterior antes de adormecermos; é o resultado de uma boa noite de sono e sonhos; sobretudo da preparação para adormecer. Esta preparação antes de dormir, é que irá direcionar o caminho de nossa dimensão psíquica e espiritual durante toda a noite.

Podemos escolher levar para cama toda gama de preocupações, tensão, expectativas negativas das situações e da vida em geral; ou através da nossa capacidade de escolha, optar por um bom relaxamento físico, uma prece, com pensamentos de confiança e desejo de soluções.

Estas simples atitudes diárias, mudam radicalmente a forma de se despertar pela manhã, alcançam inclusive a maneira de como iremos encarar os desafios e encontrar soluções.

O espaço de tempo em que estamos adormecidos fisicamente, é um terreno fecundo para as sementes que iremos lançar em nossas vidas; as quais poderão florir o jardim de nossas existências, nos dar frutos saborosos ou gerar plantas venenosas e uma mata densa, apossar de nossa mente, obstruindo nossos canais de percepção.

Durante o processo onírico (espaço de sonhos) e no momento do sono profundo, poderemos ter inúmeros benefícios espirituais esclarecedores, e até mesmo, ensinamentos significativos para nossa vida.

Começamos a perceber que aquelas imagens visuais, às vezes fragmentadas, que chamamos de sonhos, começam a compor um todo. Descobrimos então, que o sonho é uma linguagem que estava esquecida, mas que faz sentido em nossa vida diária.

A partir do momento que começamos a colocar mais atenção nessa linguagem, ela começa a se mostrar mais profunda e reveladora. Os sonhos começam a nos sinalizar e nos preparar para nossas tarefas diárias. Ao escutarmos a mensagem de nossos sonhos, conhecemos mais nossos alcances, nossos limites. Além disso, começamos a sentir mais a nossa natureza sutil, espiritual.

Percebemos então que no mundo dos sonhos não há separações entre espírito e pessoa, entre encarnados e desencarnados; na verdade começamos a ganhar mais intimidade com o universo da consciência, do mundo espiritual.

É vasta a literatura que nos fala dos sonhos proféticos, dos sonhos de iniciação. É grande o número de pessoas que já foi tratada espiritualmente e curada fisicamente durante um sonho. Grandes descobertas científicas, sinfonias musicais foram inspiradas e captadas através dos sonhos.

Apesar disso, até hoje quase todos nós, insistimos em ignorar este um terço de nossa vida, experenciado diariamente no sono e nos sonhos, como se fosse algo banal, sem importância.

É o momento de “despertarmos” desse sono letargico que obscurece o nosso espírito. Que nos faz dar mais importância para as manchetes dos jornais, para as constantes notícias de corrupção, de violência.

Corremos atrás das “informações” globais, das bolsas de valores, e empobrecemos cada vez mais nosso espírito, sedento, e esperançoso de lhe darmos mais espaço, mais atenção saudável.

E assim se repete; dia após dia; a natureza insiste conosco, nos convida a repousar o corpo e despertar o espírito, nos autoconhecermos, aprimorar nossa existência. Basta querer. Nada nos é cobrado. De graça nos é oferecido esta oportunidade diária.

As sugestões para você aproveitar essa possibilidade que a vida oferece, está colocada a seguir, logo abaixo, escolha alguma delas. Mas,...atenção... não basta ler, é preciso praticar! Não tem contra indicação. Podem ser utilizadas por adultos e crianças, só lhe trará benefícios!

1. Preparar-se para o sono com exercícios de relaxamento, meditação, prece, banho de imersão e outras práticas harmonizantes. Evocar o desejo de sentir a dimensão mais elevada de sua consciência, a qual você poderá denominar de “eu superior”, “guardião” ou como preferir.

2. Manter horário regular para adormecer e tornar o ambiente agradável, sem TV ligada. Ao deitar-se faça a seguinte sugestão para seu inconsciente: “Vou dormir, vou sonhar e lembrar-me dos sonhos ao acordar”. Você poderá após algum tempo, acrescentar mais uma afirmação, “e vou compreender meus sonhos”.

3. Ao despertar mantenha-se imóvel, procure recordar várias vezes os sonhos que teve durante à noite e depois faça suas anotações. Busque componentes como cenário, pessoas, cores, formas, palavras, etc. Se não houver lembrança de sonhos registre suas sensações e sentimentos.

4. Relacione os sonhos com as atividades e questões de seu momento presente, passado ou futuro. Faça associações dos principais elementos com sua vida.

Quando não puder anotar, procure recordar-se do sonho ainda deitado, revê-lo, ampliá-lo e completá-lo com soluções positivas, adequadas. Lembre-se, você estará usando sua imaginação, e tudo poderá ser possível.

Com o sonho podemos desenhar, dramatizar, esculpir, cantar, dançar, fazer poesia, criar fábulas. É essencial ampliar, preencher lacunas construindo uma história com começo, meio e fim.

Todo educador, pais ou facilitadores de grupos podem também inserir o hábito de formar rodas e estimular respostas para as seguintes perguntas: Quem se lembra do sonho? O que sonharam? Em seguida propor que relatem, dramatizem, façam um desenho com título, e escrevam uma história percebendo a relação desta com o momento atual.

Gradativamente você irá observar que dedicar atenção à sua vida de sono e sonhos favorece as lembranças e a intimidade com seu inconsciente, podendo valer-se da experiência onírica para uma melhor compreensão de si e do mundo que o cerca.

O transcrever os sonhos nos alerta, trabalhar com os sonhos nos revela, completar os sonhos e integrá-los nos transforma. Desfrute-os ... eles estão disponíveis para você todas as noites!

Bons sonhos!


......................................................................
Para saber mais leia:

KRIPPNER, Stanley, CARVALHO, André Percia de. Sonhos Exóticos. São Paulo: Summus, 1998.
FARADAY, Ann. O Poder do Sonho. Rio de Janeiro: Artenova, 1975.
JUNG, C. G. O Homem à descoberta da sua alma. Portugal: Tavares Martins, 1975.
NOVAES , Adenáuer. Sonhos Mensagens da Alma. 2ª ed. Salvador: Fundação Lar Harmonia, 1998.
KINCHER, Jonni. O Livro dos Sonhos para Crianças. São Paulo: Gente, 1999.
MACIEIRA, Rita de Cássia (org.). Despertando a Cura: Do Brincar ao Sonhar. Campinas: Livro Pleno, 2003.
MASLOW, H. Abraham. La amplitud potencial de la naturaleza humana. México: Editora Trilhas, 1994.

Vera Saldanha
E-mail: verasaldanha@alubrat.org.br ou campinas@alubrat.org.br
Fone: (19) 3255-1850

• Psicóloga;
• Doutora em Psicologia Transpessoal (FE-Unicamp);
• Especialização em Psicopatologia e Psicoterapia Adolescente (Unicamp);
• Especialista em Educação e Clinica (CRP)
• Presidente da Associação Luso Brasileira de Transpessoal (ALUBRAT) com sede no Brasil e Portugal;
ϖ Ministra cursos e conferências na área de Psicologia Transpessoal em diversos estados do Brasil e exterior;
• Autora do livro: A Psicoterapia Transpessoal, Ed. Rosa dos Tempos – 2ª edição;
• Co-autora do livro: Do Brincar ao Sonhar, Ed. Livro Pleno;
• Co-autora do livro: Psicologia da Consciência, Ed. Lidel Portugal;
• Autora do livro (no prelo): Psicologia Transpessoal: abordagem integrativa um conhecimento emergente em psicologia da consciência. Editora Unijui.
.................................................................
Extraído:
http://www.alubrat.org.br/site/documento_132_0__sonhos:-um-caminho-de-autoconhecimento-e-espiritualidade.html